Irmãs Salvatorianas

Crônicas de Viagem – Projeto Mawako

Projeto MawakoCrônicas de Viagem – Projeto Mawako, São Gabriel da Cachoeira/AM

Parte 1 – De 29 de Fevereiro de 2014 a 05 de Agosto de 2014

Saímos de Manaus dia 29 e chegamos no dia 30/07/14 depois de 25 horas de viagem de barco navegando pelo Rio Negro.

Nosso primeiro alimento nesta terra sagrada foi a Eucaristia, pois chegamos as 18 horas do dia 30 e a 19:30 participamos da Celebração Eucarística. Conhecemos D. Edson na celebração Eucarística e fomos apresentadas a comunidade que nos acolheram com muita alegria. Encontramos algumas Irmãs Salesianas que nos deram a boas vindas, com grande alegria, e dentre elas, 4 indígenas.

São Gabriel da Cachoeira/AM é um município com aproximadamente 50 mil habitantes. Situado ao norte do Amazonas – na divisa com a Colômbia e Venezuela. Segundo D. Edson Damiani 95% da Diocese são povos indígenas de 23 etnias com 3 línguas principais ensinadas nas escolas: Baniwa – Tucano e Engatu.

Realidade: empobrecimento – alcoolismo – drogas – abuso sexual – êxodo rural dos indígenas (estes saem das aldeias e passam a viver na cidade – recebem a bolsa família e já não se interessam mais em produzir o alimento que antes o fazia – muitos homens e algumas mulheres também bebem bebidas alcoólicas e é muito fácil olhar a ruas e vê-los no chão alcoolizados e ou envolvidos e m brigas. 60% da população é de jovens e estão estudando. É urgente a preservação da cultura, pois está se perdendo. A juventude não tem lazer – quadra de esporte – assim sem oportunidade e sem incentivo se envolvem com as drogas e com o álcool.

Nas famílias há muita violência física e sexual. A média de vida é de 70 anos. A saúde é de extrema necessidade, pois tudo se depende de Manaus e este fica distante de barco expresso cerca de 2 dias e a passagem custa R$ 360,00 e o barco mais barato demora 4 dias para chegar – de avião que é mais rápido o povo não pode viajar por causa do preço muito alto. A terra é acida e pouco se produz, assim depende de buscar em Manaus o que faz com que tudo fique muito carro.

No dia 31, iniciamos nossa peregrinação.

Às 9:00hs Trinho, Índio Baniwa (vereador) chegou para nos conduzir. Antes, porém tivemos uma reunião com D. Edson que nos agradeceu dizendo que chegamos na hora certa, pois demonstrou grande alegria com nossa presença, deixando claro o seu apoio e colaboração com relação ao projeto Mawako nos colocando a par da realidade e nos indicando caminhos a seguir para conhecer e contatar com as pessoas e entidades que podem ser parceiras nesta estrada sobre os rios.

Em seguida visitamos e conversamos com a associação dos professores indígenas e marcamos uma reunião para o dia 01/08 às 15 horas.

Caminhando um pouco mais fomos a FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. Nesta fomos acolhidos por Isaias – Índio Baniwa vice-presidente da federação que nos relatou o trabalho feito por eles. Conversamos também com a presidenta a Sra. Almerinda Índia Tariano. A Federação tem compromisso de defender os direitos dos povos indígenas que habitam a região do alto Rio Negro. Composta por 5 coordenadorias que reúnem 93 organizações de base representantes das comunidades, distribuídas ao longo dos principais rios. São cerca de 50 mil indígenas, entre 873 aldeias pertencentes a 23 grupos étnicos diferentes das famílias.

Fomos ao ISA Instituto Sócio ambiental que é uma organização que tem como missão construir soluções sustentáveis que garantam os direitos coletivos e difusos e valorizem a diversidade socioambiental (voltado para pesquisa, antropólogos)

Fomos almoçar na casa das Irmãs Salesianas e visitamos alguns lugares da cidade e a noite participou da sessão da câmara a convite do nosso amigo o Índio Trinho que é vereador.

No dia 01/08 visitamos a casa de acolhida das Irmãs Salesianas. Nesta estão 25 meninas que sofreram violência doméstica – física e algumas sexual. Segundo a Ir. Lourdes, que está em São Gabriel a 20 anos a realidade de violência tem origem no alcoolismo, pois o pai se embriaga e fica muito violento. Outra causa é a morte da mãe assim as meninas ficam abandonadas, mas diante de uma realidade tão gritante o que é acolher 25 meninas nos diz a Irmã, mas é o que elas no momento podem fazer (Obs. Em uma população de +- 50.000 habitantes no município e 30.000 habitantes no centro urbano. Conta somente com uma casa de acolhida de ‘meninas’ de até 06 anos, e as crianças e adolescentes que são vítimas do alcoolismo e abuso sexual ficam abandonadas a própria sorte).

No dia 02 participamos da assembleia dos professores indígenas. Estavam presentes cerca de 200 professores e professoras. O presidente Sr. Abraão Índio Tucano nos acolheu e nos deu a oportunidade de falar algumas palavras. Algo que chamou nossa atenção foi o fato de trabalharem juntos católicos e evangélicos – observamos que o ecumenismo entre eles é mais comum que entre as instituições – isto nos confirmou o Bispo D. Edson Damiani.

Aproveitamos muitas vezes a oportunidade de conversarmos com D. Edson que sempre com muita disponibilidade nos relatou a realidade da cidade, dos indígenas e da política local. Percebemos o seu envolvimento na vida do povo, sua simplicidade e compromisso com a vida dos povos indígenas bem como o seu profetismo sem alarde, mas muito presente e com determinação. Sua presença sem fala já é profecia.

Aproveitamos também os momentos da celebração Eucarística para estar com o povo e conhecer um pouquinho de sua vida, cultura e realidade.

Dia 03 – Fomos com D. Edson a Fazenda Esperança. Nesta há 23 pessoas se recuperando do vício do alcoolismo e das drogas.

No dia 04 estivemos em diversos lugares visitando e observando a realidade e contemplamos muitos rostos sofridos de mulheres, crianças e idosos que saem de suas aldeias e vem para a cidade em busca de suprir suas necessidades e deparam com a insensibilidade que moram nas cidades, onde a solidariedade que existia nas aldeias já não existe mais e assim ficam perambulando de um lado para outro sem ter onde ficar nem o que comer; até que voltam para casa e o dinheiro da bolsa família fica no comercio, porém até que chegue a sua aldeia boa parte do alimento comprado ficam nas correntezas do rio.

Contemplamos também muitos indígenas embriagados deitados pelas suas e calçada e alguns feridos. Segundo nos foi falado muitos desses morrem nos rios, pois embriagados saem de barco e se afogam.

No dia 05/08 viajamos de volta

Projeto Mawako - 2Parte 2 – De 09 a 27 de Março de 2015.

09/03 – Saída de Campinas às 1810hs. Alguns probleminhas no embarque das bagagens na Gol, mas a Honeide com seu jeitinho e o Catapan com sua agilidade distribuíram os excessos em sacos e sacolas para levarmos como bagagens de mão e tudo se resolveu logo. Nosso amigo Toninho acompanhou toda a manobra.

Primeira parada em Brasília, onde contatamos a Rose Medeiros para nos ajudar com o transporte dos instrumentos (09 pacotes grandes).

10/03 – Santa Rose, conseguiu a ajuda do Pe. Marcos que com uma caminhonete nos apanhou às 00 horas no aeroporto de Manaus e nos levou até a Paróquia São Raimundo Nonato, que fica próxima ao Porto, onde embarcaríamos no dia seguinte a SGC. Deixamos a tralha aí e eles nos deixaram no Hotel Rio Branco (hotel simples, sem elevador, água fria no chuveiro, mas com uma cama aconchegante e ar condicionado), onde desfrutamos de um descanso merecido.

Pela manhã, café com pão, suco e frutas. Passeio pelo centro velho de Manaus e compra de redes. Às 10.30hs, pegamos um taxi para o porto. Chegando lá já avistamos a cor e a imensidão do Rio Negro. Pegamos os instrumentos e as passagens e fomos almoçar um belo Surubim assado. Coisa boa. Como não jantamos no dia anterior, aquele almoço estava muito bom. Nesse tempo caiu uma chuva bem pesada, só deu uma trégua para descermos até o porto. 13:30hs. O barco partiu para SGC. Barco para 120 pessoas R$ 400,00 por pessoa, com ar condicionado muito gelado, que quase não se suportava. TV a bordo, banheiros e restaurante (comida boa). O barco seguia a 33 milhas por hora. Viajamos por 28 horas por 850 km, em profundidades que variavam 1,70 m a 30 m e com lugares com mais de 20 km de largura. Uma imensidão mesmo. O piloto seguiu todo o trajeto sem dormir. Ele já faz esse trabalho por mais de 25 anos e conhece cada pedrinha do rio. Apreciamos o nascer e o pôr do sol no rio, o que é muito lindo. Vimos botos, araras, papagaios, morcegos, ilhas, pescadores, pequenas vilas…. Fizemos duas paradas, Barcelos e Santa Izabel do Rio Negro. Como o ar era muito gelado ficamos a maior parte do tempo na proa do barco tomando vento na cara e apreciando a vista. Inesquecível.

Conhecemos também gente muito interessante, o piloto do barco, o 1º tenente Alberto do quartel em SGC, muito conhecedor da região. Um rapaz (que não anotei o nome), que trabalha no SEBRAE e está tentando resgatar os trabalhos de artesanato das comunidades indígenas, até mesmo, vendendo os produtos para o exterior, sem exploração. Trabalho parece muito bom. Conhecemos também o Flávio, engenheiro florestal, um dos responsáveis pelo parque Pico da Neblina. Um trabalho de formiguinha, pois são muito poucos os funcionários desse órgão que exige muito trabalho, tendo em vista a extensão de sua abrangência. Contou-nos também que é de Sorocaba SP e a dificuldade de manter uma família nesse local. Um trabalho árduo e solitário.

11/03 à tardinha, depois de 28 horas de viagem, chegamos a SGC onde o Trinho e Sussi nos aguardavam. Chegando à Diocese fomos muito bem recebidos por Dom Edson Damiani. Tomamos banho, descansamos um pouco, fomos à missa, e depois comer algo e dormir.

12/03 Agenda cheia. Reunião na Associação dos professores municipais. São 885 professores indígena, com muitos problemas. São 23 etnias, 23 diferentes línguas faladas, 03 oficiais, o tucano, nhengatu e Baniwa. Nas aldeias os pequeninos falam a língua do lugar, porém na cidade os pais já não transmitem esse ensinamento. Nas comunidades há atraso escolar de até 3 anos. A maioria dos professores têm pós-graduação e alguns Baniwas tem doutorado.

O material usado é o mesmo nacionalmente produzido pelo MEC, mas a reivindicação da Associação DOS PROFESSORES é de usar material diferenciado e próprio.

Em 2005 as primeiras turmas formadas com formatura, culto, cantos, apresentações, coquetel, etc. SGC possui algumas faculdades, dentre elas a UFAM (universidade federal do Amazonas). São mais de 300 estudantes, porém depois de formados não têm opções de trabalho para retornarem às suas comunidades. SGC tem cerca de 45 mil habitantes, sendo 19 mil na área urbana e o restante no interior. Na visão dos associados da associação de professores, alguns modos de inserir outras religiões estragaram a cultura popular, combatendo a religiosidade indígena. Os meios de comunicação também mais atrapalham do que ajudam, introduzindo fortemente o alcoolismo e as drogas e os adolescentes desaprendem valores e ficam mais teimosos e difíceis de serem trabalhados. Curiosidade: antigamente o pajé era quem orientava e apresentavam os valores a serem seguidos pelo povo, hoje essa função ficou com os professores.

11:00hs. Reunião com o secretário de cultura Domingos Savio Kamiko. A Honeide apresentou o projeto Mawako, projeto musical para atender os anseios da juventude. O secretário nos informou que o novo plano de cargos e salários, aprovado este ano, contempla um monitor para cada escola que poderá introduzir os instrumentos junto às comunidades, o que é muito bom. Apresentou também as dificuldades de recursos para construção e reforma de escolas. O orçamento anual para folha dos professores é de R$ 1.800.000,00. Ele sente falta de formação de líderes fortes para reivindicação de direitos indígenas.

Hoje há uma defasagem de 170 escolas a serem construídas, pois não recebem recursos federais, por falta de aplicação de recursos anteriores que negligenciaram a prestação de contas. Falta vontade política. Hoje só se participa de reuniões se houver comida, hospedagem, perdeu-se aquele espírito de cooperação onde cada um contribuía para a coisa acontecer. O Trinho e a irmã Vera também falaram da importância da discussão sobre fé, política e Bíblia, trazendo o assunto para a realidade do povo, mas não há apoio da prefeitura para esses projetos políticos pedagógicos. O secretário apresentou proposta para a merenda regionalizada, onde os produtores locais fossem cadastrados para emissão de notas fiscal e venda de seus produtos para a Prefeitura. Produtos estes que os estudantes estariam acostumados a ingerir.

Há dois anos a prefeitura, por problemas internos, não recebe recursos para a merenda, nem para transporte escolar, utilizando-se os recursos do FPM. As dificuldades aumentam quando falamos em comunidades ribeirinhas, porque para se chegar às mais distantes o gasto com combustível é muito grande, cerca de 4.000,00 Reais, pois o litro de gasolina custa R$ 4,10.

15:00hs. Reunião com o General Barros que nos mostrou o quartel e toda a sua jurisdição. Colocou-se à disposição para ajuda logística do projeto.

17:00hs. FOIRN federação das organizações indígenas do Rio Negro, conhecemos um dos diretores o Isaías e o Raimundo, que nos acompanharam na viagem. Mostrou-nos a composição da diretoria da federação e um pouco da história dela. A entidade nos ajudou com o empréstimo da voadeira com motor de 60hp.

13/03 – Conhecemos um pouco mais de SGC e nos preparamos para a viagem do dia seguinte.

14/03 – Saída de SGC para Ucuqui cachoeira (Foto Mapa).

Conhecemos algumas crianças indígenas Naira e Taianara que se preparam com sua família para voltarem para sua comunidade.

Com os Pilotos: Isaías, Raimundo e Trinho e nosso grupo: Honeide, Inês e Luz Catapan e Ir Vera Lucia partimos com a voadeira lotada com os instrumentos musicais, gasolina e outras necessidades. Velocidade média 40 milhas por hora.

A primeira foi na Ilha das Flores, onde o exército tem um grupo que faz a revista de quem sobe ou desce o Rio Negro. Descemos, abrimos as bagagens, tiraram foto de nós, apresentamos documentos e autorização da Funai para visitarmos as comunidades. Procuram bebidas, armas, munição, contrabando, drogas e animais silvestres. Todos que sobem o rio passam por esta revista. Hoje em dia, quase todas as famílias possuem canoas movidas a motor (rabetas), graça ao dinheiro do bolsa família.

10:50hs. Começa a chuva. Paramos numa pequena ilha para cobrir os instrumentos. Com a velocidade da voadeira e o vento inevitavelmente a agua adentra o barco. Nos molhamos um pouco. Meia hora de chuva. Logo depois paramos em uma praia chamada Inandu (espécie de codorna) para comermos o baião de dois que a Ir. Vera Lucia preparou. Nesse local já foi uma cidade, que na era Figueiredo começou a construção da Perimetral Norte. Foram construídos 22 km e depois abandonada. Passamos por uma pequena vila de casas com telhados de alumínio adquiridos com recursos do bolsa família. Outro projeto do governo, que observamos, foi à instalação de caixas d’Água para coleta de água das chuvas das calhas das casas.

Quando passávamos por outros barcos há sempre um aceno de mão, e assim fomos nos sentido cada vez mais em casa.

12:50hs. Deixamos o Rio Negro e seguimos pelo Rio Içana.

15:20hs. Acaba a gasolina, hora de trocar o corote, porém entra ar nas mangueiras e fica difícil voltar a funcionar. Enquanto estamos à deriva ouvimos o som da mata “silencio”. De repente um pássaro começa a cantar em uma margem do rio e o outro responde do outro. Lindo.

À sensação de ficar à deriva naquela imensidão não é das melhores, mas após algumas tentativas nossos anjos indígenas conseguiram fazer o barco funcionar novamente e seguimos em frente. Vejam só, como diz a Honeide, Deus proverá, se ficássemos parados mesmo, tínhamos remo e logo a frente uma comunidade bem ajeitada para nos socorrer. Mas não foi necessário.

17:00hs. Chegamos na comunidade Assunção do Içana e encontramos a ir. Ágata (salesiana), uma casa muito grande e bem estruturada. Lugar bem bonito, com praia de areia branca onde os filhos do Marciano brincavam alegremente. Os instrumentos destinados a essa comunidade ficaram guardados na casa do Marciano. Nos hospedamos no ambulatório médico onde a Esmeralda (técnica em enfermagem) trabalha. Eles possuem serviços de primeiros socorros inclusive soro antiofídico. Possuem 2 quartos com banheiro, cozinha e energia solar para luzes e geladeira.

Descansamos um pouco e tomamos banho (nós nos chuveiros e os índios no rio). Preparamos frango com caldinho e comemos com o restante do baião de dois. Fizemos galinhada para o dia seguinte. Recebemos a visita das irmãs salesianas que nos deram um cacho de bananas. Muito calor, fomos dormir cedo.

Acordamos com o cantar dos galos (verdadeiro e Catapan). O Trinho e Ir. Vera prepararam o café.

15/03 – Saímos às 7 em ponto. Primeira parada comunidade de Taiaçu, do nosso companheiro Raimundo. Conhecemos sua família e o pastor Rene que nos deu laranjas. Na saída ficamos sem gasolina novamente e estávamos numa região de pedras, mas nosso santo é forte e conseguimos arrancar. A irmã do Raimundo e seus sobrinhos pegaram uma carona conosco.

Logo à frente paramos na comunidade Tunuí cachoeira e tivemos que atravessar o povoado a pé porque o barco tinha que passar pelas pedras com menos peso e com o motor içado. Era horário do almoço e fomos convidados a partilharmos a comida com a comunidade que como fazem todos os domingos. O Capitão André nos recebeu muito bem. Todos colocaram tudo em comum. Depois os homens passaram servindo, mas todos esperaram a oração para comerem. Fomos apresentados e todas as autoridades falaram e na sua língua materna. Nessa comunidade existe uma fábrica de pimenta.

17:00hs. Chegamos a comunidade Serra da rã, família do Trinho. Aí vivem 4 ou 5 famílias, capitão Roberto, Sr. Valentin e sua esposa (avós), a mãe Monica, alguns tios e primos. Local de areia branca, onde só dá mandioca, açaí e coco. Agricultura somente para subsistência. Sobrevivem com recursos do bolsa família e aposentadoria, porém para sacar o dinheiro a viagem é muito cara, cerca de 200 litros de gasolina a R$ 4,10, viagem de rabeta 3 dias para ir e 4 para voltar. Então vão uma vez ao semestre para buscar o dinheiro.

Conhecemos o Sr. Valentin avó de Trinho (85 anos), o antigo pagé. Ele benze, faz remédios naturais, afinal um homem experiente e cheio de estórias para contar e ensinar. Sentimos o sofrimento das pessoas pelo abandono das autoridades, falta de alimentos, saúde. Porém as casas são bem-feitas, com tábuas ou alvenaria e telhado de metal. As crianças são bem cuidadas e sorridentes.

Ao chegarmos todos molhados, pois pegamos muita chuva, d. Monica, Mãe do Trinho, nos serviu água com beiju e café para esquentar. Nos serviram peixe maquiado (defumado), que pode ser armazenado por até 3 meses e quando moído por até 3 anos. Muito saboroso. Não existe energia elétrica convencional, somente por motor de rabetas adquiridos pelo esforço da comunidade. Mas a dificuldade maior é a aquisição de combustível para tal.

Necessidades de banheiro, ou banho somente no mato ou rio. Café da manhã é o mingau de água com farinha (chibé), que sustenta o corpo para o dia.

16/03 – Saímos às 7:20hs. Deixamos o rio Içana e entramos no rio Ayiari, paramos na comunidade Canadá, onde usamos o orelhão para comunicarmos com nossos familiares. Comemos inhapirá defumado e apimentado.

Conhecemos o Professor Isaias e sua esposa Neide, que nos deu laranjas e um atuará de coco. O vereador Trinho queria fotografar a ambulatório que desabou deixando a comunidade sem o serviço e vimos o descaso político em que este povo é obrigado a viver.

Seguimos viagem em direção a Ucuqui cachoeira. Ao chegarmos em Apuí cachoeira, local cheio de pedras, impossível de atravessar com o barco. Então deixamos o barco em uma margem, atravessamos a comunidade a pé transportando toda a nossa bagagem. Do outro lado, passadas as pedras, três canoas chamadas de rabetas, vindas de Ucuqui nos aguardavam para seguimos mais algumas horas até o destino final. Como estávamos sem almoço aproveitamos para tomar água de coco e comer a polpa e também umas balinhas de sobremesa.

Finalmente chegamos as 15:30 horas em Ucuqui Cachoeira e na beira do rio encontravam-se alguns índios a nos esperar. Fomos muito bem recebidos na grande maloca. O capitão Abel nos apresentou a todos e cada um falou um pouco. Depois um grupo de crianças apresentou uma dança típica como o Mawako.

Infraestrutura: grande maloca construída sem a utilização de um prego sequer, orelhão, sistema de autofalante, microfone, computador e sistema de energia movida a óleo. Três salas de aula, capela. Algumas casas possuem placas para captação de energia solar. Na escola o lamento da falta de merenda escolar. Desejam produzir o arroz para o sustento da comunidade… projeto em andamento. Produzem a mandioca, um pouco de milho e cana-de-açúcar, coco dentro outros. Porém a alimentação se resume em beiju, caldo de peixe, caldo de formiga, pimentas, farinha de mandioca, chibé, suco de açaí e de bacaba com farinha, pupunha e Ucuqui, fruta que dá o nome a comunidade. Perguntamos por que não criam cabras e galinhas disseram que já foi tentado, mas os morcegos atacam e elas acabam morrendo e também é muito difícil trazer de barco tendo que atravessar as cachoeiras passando de um lado e do outro da comunidade para mudar de barco. No tempo do rio seco são muitas cachoeiras. Nossa sorte é que estamos em tempos de rio cheio.

Fomos nos alojar e armar as redes na sala de aulas da escola e depois banho no rio. Assistimos também a um jogo de futebol, sem juiz, nem briga, nem palavrões, só divertimento, e quando toca o sino para reunião eles param sem reclamar. Hora do jantar, caldo de peixe apimentado, beiju, suco de açaí, xibé, dentre outras bacabas e Ucuqui.

Com o povo reunido a Honeide e o Raimundo apresentaram os vídeos do General Barros, do Secretário Kamiko e de Dom Edson Damiani.

À noite o Trinho falou bastante sobre a proposta da reforma política (até eu Inês, aprendi bastante), tudo na linguagem Baniwa (que para mim parece com a língua japonesa). Ao final beiju, xibé e etc. Novamente hora de dormir na rede com o barulho da chuva que caiu boa parte da noite.

17/03 – Nessa comunidade havia um banheiro, fomos então fazer higiene pessoal e tomar café e partilhar nossas bolachas. Na noite anterior ganhei uma bacia de fruta chamada euapixuna, que pedi para uma mulher preparar e coloquei na mesa da partilha.

Pela manhã tivemos uma sessão de debates e perguntas sobre o projeto da reforma política. Falaram o Abel, Trinho, Dario Fontes (curupira) e professor Mauricio, muito politizados. E foram colhidas muitas assinaturas para a reforma. Era uma fila. Todos com os documentos na mão e o brilho nos olhos com a esperança de que esse projeto de reforma política lhes traga esperança de uma vida mais digna. O professor Mauricio apresentou alguns problemas: planejamento do ano escolar começou muito tarde. Instalações da escola são inadequadas. A comunidade não possui curso de ensino médio. Intrigas da religiosidade quando os alunos vão a outras comunidades de religião diferente estudar.

Promessas e projetos: estrutura física a ser construída na comunidade Canadá e em Ucuqui uma sala que seria um anexo para o ensino médio. Acompanhar e cobrar a construção de estrutura física para o ensino fundamental. Instalação da internet para aprimoramento do conhecimento dos indígenas. Montar oficinas de música. Instalação de cursos técnicos (computação, filmagem, técnica de enfermagem, contabilidade, editoração e diagramação de livros e jornais para não se perder a cultura). Necessidade de construção de quadra poliesportiva, tendo em vista que de 3 a 8 de setembro acontecerá encontro de toda a calha do Ayiari, 17 comunidades, com competições esportivas. Deixar o estudante ser o sujeito da sua estória e não receber tudo mastigado. Desenvolver a equidade paritária.

Eles já possuem Associação escolar com CNPJ e conta em banco e querem reforçar essa instituição. 12:00hs. Almoço, com comida de branco também (arroz, linguiça calabresa, macarronada e farofa, além da comida indígena. À tarde houve mais exposição dos projetos da comunidade: pretendem iniciar a cultura do arroz, uma vez que houve a aquisição de uma beneficiadora de arroz através da Funai e um barco de 8mt com motor de popa de 40hp. À construção de um galpão para armazenamento do produto e a venda do mesmo seria para a Prefeitura para inclusão na merenda escolar das comunidades próximas. O que beneficiaria a todos. À ideia também e de produzir ração de milho para a criação de galinhas e peixes. Têm muitos projetos, muitas ideias, porém não sabem a quem encaminhar os pedidos.

Nesta mesma tarde fizemos a entrega oficial dos instrumentos musicais e foi uma grande festa. Eles até já têm quem sabe tocar e ensinar os outro.

Muita chuva e frio nesse dia e muito frio de noite.

Depois do jantar houve muita festa com a participação de todos inclusive nossa.

Ucuqui é uma das últimas comunidades que ainda vive a cultura. Resistência. Houve apresentações diversas dança do japurutu (flauta grande), dança do carissu (dança da sedução), caso você ficar comigo vai comer uruçu sempre (nunca vai faltar comida), e dança do mawako. Depois disso as mulheres e homens nos ofereceram presentes, cestos, artesanatos, brincos, comidas, frutas e farinhas. Partilhamos também o vinho de pupunha (deixa a gente bêbada e ataca o estômago. Assistimos vídeos da viagem, dançamos novamente e depois fomos dormir. Os jovens continuaram com músicas de branco.

18/03 – Logo após o café saímos para outra comunidade levamos conosco a Patrícia e o Carlos que ficaram em Assunção para cursar o ensino médio. Fomos de rabeta até o Apuí, onde desembarcamos tudo e atravessamos a comunidade até a outra margem e embarcamos na voadeira novamente.

No caminho pegamos chuva forte por um longo período. Paramos na comunidade Canadá para pegarmos gasolina e ganhamos coco de novo. Mais um pouco de navegação e paramos em uma comunidade onde trocamos um pouco de gasolina por peixe defumado. Depois de beber vinho de pupunha o Catapan ficou um pouco empachado e preferiu fazer jejum até melhorar. Observamos que ao sair de Ucuqui começa uma área de terra arenosa que vai até a comunidade Santa Rosa mais ou menos, areia branca como de praia que quase não frutifica. Dormimos novamente na comunidade do Sr. Valentin. Tomamos banho no rio e comemos peixe ensopado. Conheci “a casa de fogo”, cozinha dos índios, e a casa de farinha onde preparam a mandioca (beiju e farinha). Choveu muito a noite toda. Depois soubemos que essa chuva derrubou uma ponte que liga o porto e o aeroporto à cidade de SGC.

19/03 – Café e seguir viagem. Paramos em Santa Rosa para ouvirmos os anseios da comunidade. Estavam muito aborrecidos e se sentindo desesperançados, pois depois de 30 anos votando como cidadãos sentem-se abandonados, como quase todos os brasileiros, e só são lembrados um pouco antes das eleições, porém somente com promessas. Necessitam de gerador para iluminação, escola (até aquela data as aulas não haviam começado), postos médicos não possuem qualquer tipo de acompanhamento médico ou dentário. Telhas para aumentar a maloca que hoje é pequena para a população, mais ou menos 80 pessoas. Resgate da cultura que hoje está se perdendo. Dificuldade na venda de produtos em SGC, farinha e artesanato. Nessa comunidade as mulheres se manifestaram muito, estavam muito insatisfeitas. Compramos alguns objetos de artesanato e ganhamos banana para a viagem.

Mais um pouco e chegamos novamente em Assunção do Içana. O Isaias e o Raimundo nos deixaram e seguiram viagem até SGC, pois tinham compromisso no outro dia cedo. Banho, ganhamos ovos das freiras e fizemos arroz para o jantar. Participamos da celebração dia de São José Operário, onde o ministro presidia a celebração, tocava e assobiava. Boa participação de jovens. À comunidade é administrada por uma mulher, a capitã (seria o cacique de antigamente) Vigília que nos apresentou a todos e o Trinho explanou sobre a reforma política e foram apresentados vídeo sobre nossa viagem. Aqui também foi feita a coleta de assinatura para a reforma política.

20/03 – Cedo tomamos café, xibé, peixe quiarupira, bolo Pullman (da merenda escolar), farinha de tapioca e bolacha. Como nessa comunidade existe o curso do 2º grau a quantidade de jovens é muito grande, então a capitã fez uma breve introdução pedindo a participação de todos os estudantes. Houve discussão e debate sobre o projeto de reforma política explanado na noite anterior, encorajando os jovens a se posicionarem e abraçarem causas onde poderiam ser lideranças novas com fôlego e sangue novos e fortes.

À tarde houve a entrega oficial dos instrumentos e houve grande festa com apresentação de danças típicas apresentadas pelas jovens e participada por nós também. Nessa comunidade também fomos agraciados com presentes. À tarde fomos tomar um mingau na casa das freiras, que fazem um belo trabalho na comunidade. Depois tomamos banho, jantamos e voltamos novamente para a maloca e apresentamos filme e fotos do trabalho na comunidade.

21/03 – Saímos cedo agora com o piloto Trinho. Em Assunção conhecemos a Ciça uma estudante da Unicamp que está trabalhando no estudo da língua nhengatu. Ela pegou carona conosco até SGC, e por coincidência ela também estava hospedada da diocese. Chegamos por volta das 12:00hs no porto. Chegamos no alojamento perto das 13:00hs, com muita fome. Fizemos um almocinho e fomos descansar um pouco, pois a jornada foi longa. Missa com dois bispos e dois padres. Jantamos em casa mesmo e deitar cedo.

22/03 – Aniversário do Catapan, café da manhã e almoço especial com caldeirada, sorvete de sobremesa.

À tarde participamos de encontro do Dom João e Dom Edson com as religiosas. Depois reunião de avaliação com o Trinho.

23/03 – A Honeide viajou para São Paulo e teve a companhia de D. Joao Bispo Auxiliar de Belo Horizonte que veio a SGC orientar um retiro para o Padres, e nós três ficamos para ir no dia seguinte.

24/03 – O Trinho com um amigo nos levou ao porto, estávamos com receio, pois a ponte havia cedido, mas alguém colocou uns paus e deu para nós passarmos. Ficamos sabendo que no dia seguinte a chuva forte a levou totalmente deixando São Gabriel ilhado.

As 7:30 Eu Inês, Catapan e Ir Vera Lucia, entramos no barco de volta para Manaus, foram 25 horas de viagem, uma paisagem inesquecível que nos levava a lembrar de quanto Deus é bom e cuida com amor de todas as criaturas, mas também nos fez lembrar de como o ser humano é capaz de destruir toda essa beleza só por quem é ganancioso e deseja ter cada vez mais poder e poder.

25/03 – Chegamos a Manaus e fomos para a Paroquia São Raimundo, onde fomos acolhidos por Pe. Alcione que além de nos hospedar nos deu de presente uma tarde turística nos levando a conhecer a ponte e também a praia da Ponta Negra.

26/03 – Pela manhã fomos conhecer o Teatro Amazonas. O Guia nos deu uma dose de cultura relatando a história e nascimento do Teatro depois fomos almoçar e a tarde arrumar a mala para a volta.

Nossa Amiga Rose que nos buscou no aeroporto no dia 09/03 agora teve a incumbência de nos levar de volta ao aeroporto, no caminho paramos num local para um lanche e uma boa conversa.

27/03 – Às 2 horas da manhã viajamos de volta a São Paulo, chegando em Campinas as 11 horas. Assim foi uma manhã. Depois uma tarde. Um anoitecer e na aurora de um novo dia Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom.

A vida grita nas entranhas da Mãe Terra…

São gritos profundos, quem vem do Submundo…

Cavem… cavem… cavem mais fundo…

A Mãe Terra está grávida…

Não deixem a esperança morrer…

Ir. Vera Lúcia Palermo

img5Parte 3 – De 05 a 15 de Novembro 2015

Mawako é um instrumento musical da cultura indígena Baniwa.

O município de São Gabriel da Cachoeira localiza-se no estado do Amazonas, faz fronteira com a Colômbia e Venezuela, correspondendo 850 km linha reta da capital Manaus, banhada pelas aguas do rio Negro. A região do Alto e médio rio Negro é habitada há pelos menos três mil anos por um conjunto diversificado de povos indígenas. Atualmente, aí convivem vinte e dois povos indígenas, que falam idiomas pertencentes a quatro famílias linguísticas distantes: Aruak, Maku, Tukano e Yanomami. O município é formado por mais de 700 comunidades e sítios distribuídas nas cinco regiões administrativas. Com 95% da população é indígena.

A região do rio Içana é habitado desde o princípio pelo povo Baniwa e Coripaco, pertencente ao tronco linguístico Aruak, tem 696 km de extensão cerca 93 comunidades indígenas espalhadas nas calhas do rio Içana. Localiza no noroeste do estado do Amazonas fronteira com a Colômbia.

O projeto de formação de lideranças visa reunir jovens, estudantes e professores indígenas, capitães de comunidades e lideranças para participar da formação, para que esses atores possam somar na luta de seus direitos e pela terra.

Iniciamos nossa viagem no aeroporto de São Paulo e Aeroporto de Maringá/PR rumo a Manaus/AM, as 10:00 horas. A Ir. Vera Lucia Palermo (Salvatoriana) chegou por volta das 12 horas e Honeide Lima e Maria Madalena Lucio as 14:30. Com o horário de verão a diferença de São Paulo para Manaus são de 2:00 horas. Como desta vez não foi possível nossa amiga Rose Medeiros nos buscar fomos de taxi e nos hospedamos em um hotel no centro de Manaus bem perto do Teatro Amazonas e em seguida fomos almoçar e nos preparar para no dia seguinte viajarmos para São Gabriel da Cachoeira de barco.

As 6:00 horas da manhã com muita chuva em Manaus saímos do hotel em um taxi e fomos ao porto São Raimundo. Lá iniciamos nossa viagem as 8: horas 30 minutos no barco expresso diamantina. Foram 28 horas de viagem para chegar a São Gabriel.

Chegando a São Gabriel por volta das 12:00 horas estava a nossa espera o nosso querido amigo Trinho, Índio Baniwa e Neto seu amigo. Em seguida fomos para a Casa de D. Edson Damiani, Bispo da Diocese de São Gabriel que nos acolheu com muito carinho, gratuidade e disponibilidade. Estava hospedado na casa de D. Edson um casal amigo seu de Brasília que alguns anos atrás moraram em São Gabriel por alguns anos ajudando na formação e projetos com os indígenas. O casal retornou para uma visita e outras atividades. Ele sociólogo e Ela Artista plástica. À tarde tivemos uma reunião com Trinho para nos organizarmos para a viagem até Santa Rosa de Lima, comunidade onde aconteceu o encontro.

A noite formos com Pe. Jorge (peruano) até a comunidade Nossa Senhora de Guadalupe num bairro de São Gabriel, onde participamos na celebração Eucarística com as pessoas da comunidade que com muita alegria nos acolheram.

08/11 – Logo as 8:00 horas subimos o rio negro numa voadeira (barco a motor) rumo a comunidade Santa Rosa de Lima. Nesta época o Rio negro está com agua baixa e como tem muitas cachoeiras víamos as pedras e o condutor tinha que fazer malabarismo buscando os lugares mais fundos para que a voadeira navegasse com mais tranquilidade. Os nossos olhos maravilhados iam se alimentando de tanta beleza e nosso coração se enchia de alegria e muitas vezes calamos, pois o silencio reproduzia a voz da mata, do rio e o único som que ouvíamos era o barulho do motor que cortava as aguas se desfiando das pedras. Por mais cuidado que tivemos ainda assim derrapamos numa pedra e lá se foi à tampa do motor. Só foi um susto tudo deu certo graças a Deus. Depois de 5 horas de viagem paramos para almoçar. Alimentado o corpo, prosseguimos atravessando o rio negro e chegamos ao rio Içana. No meio deste trajeto veio à chuva para refrescar nosso dia, pois estava muito quente, mas também com ela precisamos ir mais devagar, mas graças a Deus chegamos às 17 horas na comunidade Nossa Senhora da Assunção onde passamos a noite, pois não é possível viajar a noite devido as pedras das cachoeiras. Aproveitamos para fazer uma visita as Irmãs Salesianas que ali residem e também ver algumas pessoas, pois ali deixamos no mês de março deste ano instrumentos musicais para os grupos de jovens. Segundo as pessoas os jovens têm usado os instrumentos para as celebrações e festividades da comunidade.

Nesta comunidade reside o Padre que acompanha as comunidades ribeiras do Rio Içana. Nossa amiga Madalena se encontrou e conversou com o Padre que comentou a realidade dos jovens que estão envolvidos em vícios. As Irmãs partilharam conosco café e ovos. Depois do jantar fomos à casa das irmãs, pois precisamos de internet e enquanto ali nos distraímos algumas pessoas foram no barco onde estavam os alimentos que levávamos para a comunidade de Santa Rosa e estes roubaram o fardo de arroz e macarrão. O Trinho precisou dormir no barco e nos contou que durante a noite duas vezes foram em busca de gasolina e nossa sorte foi que ele estava no barco.

09/11 – Neste dia logo às 6 da manhã seguimos nossa viagem, pois o trajeto é longo e precisamos ir devagar para não chocar com as pedras. Ainda tínhamos um grande obstáculo para vencer: a cachoeira de TUNUI. Neste local é preciso descer e atravessar a comunidade a pé, pois o barco tem que ser atravessado por pessoas experientes por causa da cachoeira. Depois de uma hora de trabalho para atravessar a voadeira demos continuidade a nossa viagem até Santa Rosa.

Finalmente às 13 horas chegamos a Santa Rosa e a comunidade estava a nossa espera. Fomos acolhidas/os pela comunidade com cantos de boas-vindas entoado por muitas crianças e todos vieram nos cumprimentar nos dando a mão num gesto de acolhida e carinho. O Capitão (cacique) falou algumas palavras de acolhimento e em seguida um grupo dançou o MAWAKO para que nos sentíssemos em casa.

Em seguida foram buscar nossas coisas no barco e nos levaram na tenda onde foi nosso quarto de dormir. Logo após fomos convidados para o almoço na mesa comum. A alimentação é feita sempre juntos, pois segundo eles dessa forma ninguém passa necessidade. Se houver alguém que naquele dia não conseguiu alimento por estar doente ou outros motivos, não vai passar necessidade por que a comunidade faz a mesa da partilha. Cada um traz o que tem e todos comem juntos.

As 15 horas iniciamos nossas atividades de formação de lideranças. Este foi o 1º Encontro dos agricultores indígenas do alto rio negro cujo tema foi: ORGANIZAÇÃO DE COOPERATIVA. O primeiro momento foi assessorado por Ir Vera Lucia Palermo que iniciou abrindo espaço para que cada representante das comunidades falasse sobre a realidade em que vivem expressando as necessidades e dificuldades que tem como agricultores respondendo algumas perguntas: O que é produzido? Quais a dificuldades que tem? O que faz para sanar as dificuldades? Trabalha sozinho ou em comunidade? Estavam presentes cinco comunidades: Após a partilha de cada pessoa Ir. Vera lembrou e contou a parábola do semeador enfatizando a importância de não pararmos nas dificuldades, pois a semente que se perde no caminho, a que é sufocada pelos espinhos e as que caíram nas pedras podem representam as dificuldades que encontramos, mas não podemos ficar nelas e sim continuarmos buscando a terra boa que produz 100 por cento. Ela lembrou ainda que é preciso fazermos os trabalhos juntos, pois a união faz a força.

O Trinho fez o papel de tradutor tanto do português para a língua Baniwa ou vice-versa, pois muitos indígenas não falam ou compreendem pouco o português e algumas palavras que usávamos eram para eles incompreensível. Percebíamos que quando o Trinho traduzia para a língua Baniwa a reação dos mesmos era outro, pois nesse momento eles compreendiam o que foi falado na sua realidade e cultura. Nos chamou atenção a presença e participação das mulheres indígenas.

As 18 horas fizemos uma pausa para o banho que foi no rio e depois o jantar. As 20 horas foi passado alguns vídeos: A fala de D. Edson Damiani, Bispo da diocese de São Gabriel que enfatizou a importância da formação e informação para os agricultores bem como o seu apoio a missão do projeto Mawako que não se limita ao trabalho com os jovens para tem no seu objetivo a formação de lideranças. Também foi colocado um vídeo do Pe. Darcy que contou a história de sua família com a experiência de cooperados. Em seguida foi colocado dois vídeos sobre o cooperativismo. O primeiro falando o que é uma cooperativa e o segundo enfatizando os sete pontos importantes para a organização de uma cooperativa.

10/11- Iniciamos o dia tomando um Chibé com a comunidade e em seguida foi a vez de Honeide Lima assessorar. Ela em sua colocação falou da diferença entre associação, cooperativa e sindicato e enquanto falava o Trinho traduzia e algumas pessoas intervinham com perguntas e questionamentos o que foi muito bom para esclarecer o assunto. Honeide explicou bem o significado de cooperativa e em seguida foi dado um tempo para eles conversarem entre si e depois ver as dúvidas. Enquanto acontecia a explanação vinha alguém com produtos da terra como bananas e abacaxis produzidos por eles que eram partilhado para todos.

Maria Madalena Lucio entrou neste momento uma dinâmica e didática de professora como ela o é. Foi uma boa dinâmica, pois percebemos que as pessoas que participaram compreenderam bem o que ela queria enfatizar sobre a importância do trabalho em família e em comunidade. Lembramos que o papel de tradutor de nosso amigo Trinho foi de suma importância, pois além de traduzir ele também acrescentava aquilo que nós não falávamos. Ele é conhecedor da realidade e dor de seu povo e compreende melhor que nós onde precisa colocar o remédio para sanar a dor de ser esquecidos pelos governantes em todas as esferas de governo.

Após o almoço Maria Madalena retornou explicando dos sete passos para organizar uma cooperativa. Neste momento nós todas demos nossa contribuição com o intuito de fazer compreender a importância do trabalho comunitário. Honeide lembrou que “Uma só varinha é tão fácil de quebrar, mas se junta um feixe todo você pode até suar”.

A merenda foi circulando pelas mãos das mulheres e assim os trabalhos não pararam.

Em seguida foi pedido para que as participantes fizessem uma avaliação do encontro. Como se sentiram e se contribuiu para o seu aprendizado?

As colocações de cada um mostraram que as informações e metodologia fez diferença, pois várias pessoas ressaltaram que agora entende a diferença entre associação, cooperativa e sindicato. Umas das pessoas disse que participa de uma associação, mas que não entendia bem o que era, mas que agora compreende. Alguns manifestaram o desejo de fazer a experiência de cooperativa. De modo geral percebemos que valeu a pena estar neste encontro e pediram que não os abandonemos, pois precisam de nossa colaboração para se organizarem. E ficou certo de voltarmos no mês de abril de 2016 para dar continuidade a formação das lideranças e também a entrega dos instrumentos musicais para a comunidade. Sugerimos que outras comunidades fossem convidadas, mas sabemos que muitas não têm dinheiro para comprar a gasolina para ir e assim se limitam a um ou dois participantes. Nós tivemos um tempo para cada uma agradecer e o Trinho finalizou o encontro com sua avaliação e agradecimento e convidando-os a refletir sobre a proposta de cooperativa se colocando à disposição para qualquer esclarecimento.

Terminamos o encontro fazendo uma oração de agradecimento e refletindo com o texto de João 15,1-8:

Eu sou a Videira verdadeira e meu Pai é o agricultor…. Vocês são ramos.

Nesta oração ressaltamos a importância de vivermos unidos, pois assim Deus nos chama a viver e onde estivermos unidos ele está no meio de nós

A noite após o Chibé com biju (comida Típica) teve várias apresentações de dança, dentre elas a dança do Mawako. E nós fomos convidas a dançar e eles riam muito do nosso desajeito para a dança. Foi muito, muito bom, um momento da graça e bondade de Deus que se manifesta na simplicidade e ternura dos pequenos. Nosso coração ardia e nossos olhos molhavam a face ao ver e ouvir o som da dança e música dos nossos irmãos e irmãs Baniwas.

Depois chegaram dançando com muito presentes e nos convidaram a tomar o vinho feito do abacaxi fermentado. Uma bebida típica dos indígenas. Esta bebida pode ser feita da pupunha, do abacaxi e de outras frutas da região. Após muitas apresentações de danças indígenas fomos dormir para o dia seguinte voltar para São Gabriel.

11/11 – Depois do chibé em torno de 9:00 horas partimos com a voadeira carregada com os presentes que ganhamos. Muita farinha, beijus, bananas, abacaxis etc. Nosso olhar se fixou a beira rio onde a comunidade se despedia de nós. O Silencio veio fazer parte deste momento, pois as palavras não podiam dizer tudo o que sentíamos. O Sentimentos misturados deixava transparecer alegria, lágrimas, sorrir os e acenos de até breve…. Em nosso coração uma frase não dita se formava: “Aqui está minha vida, meu ser e minha alma – já somos um pouco Baniwa”.

Chegamos em Tunuí cachoeira e novamente precisamos sair do barco e atravessar a comunidade a pé e alguns homens da comunidade atravessou a voadeira na cocheira. Este processo demorou cerca de uma hora e 15 minutos. Com essa demora podemos tomar consciência do passa nossos irmãos indígenas que tem que fazer isso mais de uma vez. A cada viagem é necessário fazer a travessia da voadeira para o outro lado da cocheira. Segundo Trinho, este é um trabalho muito difícil e perigoso e que precisa de muita força para empurrar a voadeira a cachoeira acima ou abaixo para prosseguir a viagem.

Em Tunuí Cachoeira tem uma comunidade Evangélica e ali tem uma produção de mel de abelha jatai. Enquanto esperávamos o barco conversamos com um jovem que responsável pela produção de mel. Ele fez um curso e se especializou na produção de mel e comercializa o mesmo, porém com muita dificuldade por falta de incentivo e cooperação financeira.

Finalmente conseguiram passar a voadeira pela cocheira e seguimos nossa viagem com o desejo de chegar em São Gabriel ainda neste dia, pois a voadeira estava muito pesada e a velocidade diminuída. Chegamos em assunção por volta das 13 horas e paramos somente para pegar a gasolina para a viagem e retomamos a viagem torcendo para não escurecer tão rápido. Chegamos na parada do exército era 17,50 horas e resolvemos seguir mesmo com o escuro e assim foi feito.

12/11 – Fizemos uma avaliação entre nós e vimos que o projeto está sendo encaminhado por Deus e que a nós é pedido disponibilidade para servir. Segundo Trinho foi 10, pois ele ouviu as colocações na língua Baniwa e disse que eles estavam muito felizes com o encontro. Neste dia aproveitamos para ir em algumas instancias como: fórum e FOIRN para a Organização do ASSOCIAÇÃO MAWAKO.

Decidimos organizar a Associação Mawako com a finalidade de obtermos ajuda de projetos para dar continuidade a missão, pois o custo é bastante elevado e as contribuições são pequenas.

13/11 – Saímos bem sedo para o porto e as 7hs partimos de volta a Manaus. Por causa do Rio estar mais baixo por causa da seca demoramos mais tempo com a volta, mas chegamos bem graças a Deus no dia seguinte 14/11/2015.

15/11 – As duas horas da madrugada embarcamos no avião de volta para casa.

Combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé

2Tm 4,7

Projeto Mawako - 3

Avaliação do Projeto Mawako

Como o Trinho vê nossa presença:

  • Eles sentem-se abandonados pela igreja pela política, pelos órgãos governamentais
  • Associações estão mortas ou morrendo. Elas eram formas de reinvindicação
  • Necessidade de formação. A política é nova. Olha os políticos como aqueles que devem dar coisas.
  • Elegeram um indígena par prefeito que foi um fracasso. E os que financiaram entraram na prefeitura e acabou e dividiu os indígenas. Vamos votar num branco rico que possa dar as coisas para nós … ficaram desacreditado e agora é difícil eles acreditar de novo.
  • Nós entramos num campo onde tudo está tudo desestruturado e a nossa presença trouxe esperança.
  • Nossos pais iam, remavam, pescavam para participar. Hoje não, hoje é preciso dar o rancho a gasolina para que eles participem.

Centro do rio Iari é a comunidade canada

  • Conteúdo da Formação: Política e controle social; Origem da política.
  • O papel do vereador, prefeito, deputado, senador, presidente.
  • Votos, sistema eleitoral, o voto tem consequência, conselhos, orçamento participativo.
  • Vídeos: Vida de inseto; Smilinguido.
  • O que tem de ser feito para que as coisas funcionem.

Projeto Barco – Assembleia da APIARN.

Ver a data da entrega com CRB. Dezembro

A vida grita

Nas entranhas da mãe terra

São gritos profundos

Que vem do submundo.

Ecoa nos ares os gritos da mãe terra

Em dores de parto

Nascerá na rua

os filhos de suas entranhas nuas.

Sonho

Sonhei…

Sonhei que um belo dia

Acabava a agonia

Do pobre, do sofredor, Pois, Jesus, Nosso Senhor, lhes dava a vitória.

A morte vencida

Já não mais brigava com a vida.

Sonhei…

Sonhei, e vi o mundo globalizado…

Num só coração irmanado. Cantar uma única canção;

Que falava de amor e liberdade.

E vi no olhar de uma criança, criada,

A certeza de que a vida jamais será abafada.

Sonhei…

Sonhei, e vi no olhar da juventude,

A esperança de uma nova sociedade

Do jeito que Jesus quis

Para toda a humanidade!

Ir. Vera Lucia Palermo

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